domingo, fevereiro 24, 2008

"Escalate commitment"

Há dias em conversa com alguém que conhece muito bem o tecido empresarial do Norte, sobretudo da área têxtil, comentou-se o facto de em algumas empresas, perante o aumento das dificuldades em competir, a opção da gerência passar, quase instintivamente, pela compra de mais uma máquina... como se isso fosse resolver a situação!

Ontem, lembrei-me desta conversa por dois motivos completamente distintos:

Primeiro:
Ao ler o documento da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES) publicado recentemente, e ao ouvir a opinião do Presidente da República: "Cavaco convida portugueses a «trabalhar» Portugueses «não se devem resignar» perante problemas, diz PR, admitindo que há dificuldades a ultrapassar."

Veio-me logo à memória a Lei número um dos buracos: "Quando se descobre que se está dentro de um, a primeira coisa a fazer é parar de cavar"

Quando se está dentro de um buraco de nada vale cavar mais depressa, é preciso parar para pensar e formular alternativas.

A exortação de Cavaco «Convido os portugueses a trabalhar para vencer as dificuldades» pode degenerar, ou ser interpretada como a reacção do empresário têxtil que, para vencer as dificuldades encomenda mais uma máquina, pudera, a sua mente foi formatada numa época em que isso resultava, porque a restrição era interna e não externa. Hoje a restrição têxtil é, quase sempre, externa (falta de clientes) e quando é interna é mais de falta de organização do que maquinaria (aliás, arrisco de olhos fechados afirmar que muitas vezes já se tem é maquinaria a mais).

Segundo:

Ao reler umas passagens do livro "The Sixth Sense" encontrei esta:

"the way the human brain works can sabotage the choices we make.
For example, when strategy starts to fail, individual managers tend to escalate commitment in order to try to achieve a successful outcome. Such escalation is often irrational. This bolstering of failing strategy is one of many ways in which managers avoid difficult, stressful, decision dilemmas."

"Escalate commitment" - comprar mais uma máquina; convidar os portugueses a trabalhar

A nossa organização de hoje, gera os resultados actuais!
Se queremos resultados futuros desejados diferentes... não há volta a dar, temos de mudar, temos de transformar a organização actual para criar a organização do futuro.

Não adianta correr mais depressa e esperar um milagre.

A propósito, ou antes, a despropósito, mas quem assina o documento da SEDES não faz parte da situação? Uns são militantes de partidos, outros foram ministros, outros foram deputados, outros foram conselheiros de presidentes da república, outros ... se fosse noutros tempos, diria que estão a posicionar-se na grelha de partida, para fazerem parte de uma nova estrutura de poder após uma qualquer revolução.

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