quinta-feira, julho 31, 2008

A minha solução não passa por aqui (I)

Ao ler o artigo de Vítor Bento no Jornal de Negócios "Falar verdade (3)" encontro uma receita que não é a minha.
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Encontro a receita típica de quem está longe da realidade micro-económica e só tem acesso à racionalidade das fórmulas económicas, faltando-lhe o conhecimento do golpe de asa, dos milagres que se podem fazer quando se descobre o valor e se deixa de venerar o preço como o factor competitivo por execelência.
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Esta conversa "É verdade que os salários portugueses já são dos mais baixos na Europa. Mas também o é a produtividade, e só esta pode garantir a sustentação do nível de vida. E o actual nível de vida não é sustentado pelo actual nível de produtividade. O seu incremento tem, pois, que constituir a aposta fundamental da política económica, se se quiser melhorar sustentadamente o nível de vida. " é verdadeira mas também é parcial, incompleta e não verdadeira.
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Quem está longe da micro-economia não tem relações amorosas com produtos e serviços concretos, não consegue ver para além dos custos da equação da produtividade, não consegue olhar para o numerador da equação, não consegue pensar em valor.
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É verdade que a produtividade é um problema medonho da nossa economia, mas concentrar os nossos esforços para a aumentar, no denominador da equação da produtividade, é a melhor receita para nunca aspirarmos à Liga dos Campeões.
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A receita proposta é do mais árido que há, além de pouco eficiente (basta ver o gráfico de Rosiello):
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"O mais difícil é conseguir resultados, a curto prazo, na competitividade externa (e no estímulo da produção). Não dispondo de moeda para desvalorizar, mas sabendo que a desvalorização só funciona se conseguir reduzir o salário real, parte do efeito necessário (15%, pelo menos) poderá ser conseguida, pelo menos, e mais demoradamente, aproveitando o esperado aumento da inflação, combinado com uma absoluta contenção salarial. Pelo menos. O aumento do horário de trabalho também pode agir no mesmo sentido."
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Apesar de não acreditar em receitas únicas arrisco numa para este caso: a destruição das empresas que não conseguem aumentar a sua produtividade (não falo em produtividade por trabalhador, falo em produtividade por empresa).
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Continua.

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