terça-feira, novembro 11, 2008

Quantas pessoas se aperceberam desta revolução?

Ontem, ao preparar elementos para uma acção de formação, fui vasculhar uma das pastas de recortes de jornais que guardo, às tantas, encontro o seguinte editorial de Sérgio Figueiredo no Jornal de Negócios no distante dia 30 de Março de 2005 "Um colossal problema", onde se pode ler:
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"Só não é ainda uma catástrofe, porque vai ficar pior: o sector do calçado, ex-libris da nossa indústria tradicional, um caso exemplar de modernização, caminha silenciosamente para a morte. Os últimos anos já estão marcados pelo definhamento. A produção regrediu 4% em meia década"
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"O sector atravessa, portanto, uma crise bastante mais grave do que a média do país.
O que torna tudo isto muito mais inquietante é ver que, entretanto, aos outros aconteceu pior. Na União Europeia, um quarto do sector foi varrido do mapa em cinco anos. E na América do Norte, Estados Unidos e Canadá, pura e simplesmente já não se fabrica um par de sapatos.
O colapso dos outros é uma angústia apenas e só porque mostra o destino que espera por nós. As nossas empresas de calçado fizeram a reestruturaração necessária, modernizaram-se e reduziram custos. Mas isso já não chega para sobreviver.
Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas. Deslocalização. Sim, essa evidência que o Presidente da República se limitou a observar na recente viagem à China e que, então, irritou os ignorantes e despertou os inconscientes.
Porque, se Jorge Sampaio então indicava as vias da viabilização aos empresários nacionais do têxtil, também poderia fazer o mesmo no calçado. E numa série de sectores que produzem bens transaccionáveis – sujeitos, portanto, à tal concorrência desleal dos chineses e indianos.
É este o grande, o grandessíssimo problema que está colocado à nossa economia, à nossa sociedade e, naturalmente, ao nosso poder político."

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3 anos depois, o que se pode ler no mesmo jornal?
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Consideremos o artigo de 16 de Janeiro de 2008 "Calçado sabe nadar, yô?!"
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"Um par de sapatos exportado por Portugal tem um preço médio de 18 euros, enquanto um par importado da China custa 3 euros. Com números destes, o normal é que a indústria portuguesa de calçado estivesse a ser massacrada, num “remake” dos problemas do sector"
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"Afinal aconteceu o contrário. As exportações aumentaram (em 2007 mais de 90% da produção foi para o exterior), apesar da valorização do euro face ao dólar. As vendas para os EUA foram desviadas para os mercados europeus.
O que aconteceu? O que sempre sucede quando as empresas são largadas no mar: ou aprendem a nadar, ou vão ao fundo. Algumas afogaram-se, a esmagadora maioria safou-se. Perdida a vantagem preço, foram obrigadas a mudar o modelo de negócio. Resultado: a imaginação ganhou à fatalidade (em 2007 quase 50% das empresas já tinham marcas próprias).
É claro que esta revolução não se fez sem dor. Quem não se lembra dos apelos à intervenção do Estado quando a Clarks e a Bawo fecharam as portas? Num país onde um dos passatempos favoritos é a autoflagelação, vale a pena estudar este caso. Pode ser que deixemos de gritar pelo Estado? por tudo e por nada."
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Quantas pessoas têm consciência desta revolução e do seu sucesso no calçado?
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E no têxtil? A mesma revolução e sucesso!
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E no mobiliário? A mesma revolução e sucesso!
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Não precisámos de mudar de empresários por decreto, o mercado (que não liga a cunhas) encarregou-se disso; não precisámos de levantar barreiras alfandegárias; não precisámos de seguir os conselhos Olivier Blanchard no caderno de Economia do semanário Expresso de 18 de Novembro de 2006: "Salários têm de cair 20%"
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Em vez de atacar o custo pensaram no valor para vencer a batalha da produtividade

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