terça-feira, março 10, 2009

Está difícil fazer passar para o mainstream português esta visão da produtividade centrada na eficácia e não só na eficiência

Ontem descobri este interessante artigo sobre a produtividade "New Concepts of Productivity and its Improvement" de Arturo L. Tolentino.
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Ao longo dos anos tenho protestado aqui contra o discurso do mainstream sobre a produtividade. Um discurso concentrado na eficiência, na redução dos custos, no controlo dos salários, nos inputs, aquilo a que eu chamo a concentração no denominador da equação da produtividade.
Para mim é muito claro que a concentração tem de ser no numerador da equação:
Aprendi, fui despertado pelo artigo “Managing Price, Gaining Profit” de Michael V. Marn & Robert L. Rosiello, em Setembro-Outubro de 1992 para o efeito alavancador da criação de valor no numerador da equação da produtividade:
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Alguns trechos do artigo de Tolentino nesta onda:
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"Whereas traditionally, productivity is viewed mainly as an efficiency concept (amount of outputs in relation to efforts or resources used), productivity is now viewed increasingly as an efficiency and effectiveness concept, effectiveness being how the enterprise meets the dynamic needs and expectations of customers (buyers/users of products and services) i.e. how the enterprise creates and offers customer value. Productivity is now seen to depend on the value of the products and services (utility, uniqueness, quality, convenience, availability, etc) and the efficiency with which they are produced and delivered to the customers."
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"Productivity improvement must now focus on value creation rather than on minimization of inputs. Higher customer value is created when the products and services meet customer needs for utility, timeliness, esteem, service, etc. This is what customers buy and pay for. With the rapid advance of technology and greater access to information, customer expectations are constantly changing and becoming more demanding. For long term productivity and competitiveness therefore, enterprises must constantly innovate (come-up with new and better products and develop better ways of doing things), be flexible and agile, respond rapidly to the increasingly sophisticated customer needs which are constantly changing, and be able to anticipate and adjust to the very dynamic market conditions."
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Será que as empresas portuguesas de calçado e do têxtil podem competir no negócio do preço, no negócio do denominador com a China et al? Claro que não.
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Será que as empresas portuguesas de calçado e do têxtil podem competir no negócio do valor, no negócio do numerador? Claro que sim!
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Para isso, tal como refere o último trecho de Tolentino, há que apostar na flexibilidade, na inovação, no super-serviço, nas pequenas séries:
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"Desde 1990, as industrias de calçado e têxtil, viram desaparecer mais de uma centena de empresas de grande dimensão que operavam em Portugal. Segundo dados do Ministério do Trabalho, em 2006, existiam nestas industrias apenas 19 empresas com capacidade para empregar mais de 500 trabalhadores, enquanto as pequenas e micro ultrapassavam as nove mil.
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As microempresas cresceram 66% em quantidade até 2006, existindo quase 6000 que asseguram 11% do emprego nas industrias do calçado, têxtil e vestuário, percentagem que em 1990 era de 4%. Por outro lado, as empresas com mais de 500 trabalhadores passaram de uma percentagem de 22% para 6% em postos de trabalho. É o grupo de empresas com mais de 50 trabalhadores que tem a maior percentagem de empregos, 37%."
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"temos um crescente número de pequenas empresas a desenvolverem projectos inovadores centrados na diferenciação" (aqui)
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Está difícil fazer passar para o mainstream português esta visão da produtividade centrada na eficácia e não só na eficiência.




1 comentário:

Jose Silva disse...

Caro Carlos,

O problema é que não é só o MSM . O grave é que «blogues contemporaneos» encontram explicações esotéricas para o sub-desenvolvimento relativo nacional. A minha explicação é muito simples: Ignorância generalizada.

No tempo de Napoleão quase toda a Europa tinha escolaridade básica. Os ibéricos não.