terça-feira, junho 01, 2010

O choque chinês num país de moeda forte (parte I)

Portugal é um país com uma moeda forte!
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Ter uma moeda forte e, em simultâneo, ter a maioria da sua indústria de bens transaccionáveis situada no quadrante do Baixo Valor Potencial é uma situação muito perigosa, por que é a zona mais vulnerável à competição, sobretudo a que vem dos países LMC (low manufacturing cost).
O quadrante do Baixo Valor Potencial quer dizer que se fabricam produtos ou serviços que são fáceis de substituir e que não são estratégicos na cadeia de valor dos clientes, por isso, os fornecedores que operam nessa zona são os que mais facilmente, por causa de um cêntimo no preço, por exemplo, podem ser substituídos.
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Na última década, a par da adesão ao euro (acontecimento que nos devia ter motivado a evoluir para o quadrante do Muito Elevado Valor Potencial, o único compatível com uma moeda forte conjugada com uma economia competitiva e bem sucedida, basta recordar o meu "Somos todos alemães" a começar pela parte I), com a adesão da China à OMC e com a adesão da Europa de Leste à UE, assistimos a um choque entre os nossos sectores de bens transaccionáveis e os dos LMC, que se traduziu no rápido crescimento das importações desses países.
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Daí o meu interesse pelo artigo "Productivity Dispersion and its determinants: the role of import competition" de Daniela Maggioni, atentemos nas conclusões:
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"During the last decade, Italy experienced a rapid growth of import penetration, especially from low and medium income countries. (Moi ici: Same as here in Portugal) This phenomenon has been common to all developed countries, and it is in great part due to the implementation of liberalization strategies by emerging and developing countries and their industrial development, and not linked to specific domestic factors in Italy. Aware of this evidence, we analyse if this foreign competition contributes to shape the sectoral productivity distribution and firm dynamics.
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First, we verify that, in a comprehensive framework, the exposure to LMCs is negatively related with the high productivity dispersion at sector level. The within-sector disparity in firm productivity presents also signficant linkages with the concentration of the domestic market and more in general with the domestic competitive context. No role is instead detected for the ICT adoption and other trade variables." (Moi ici: ou seja, simplificando, podemos desenhar este gráfico
No texto do artigo encontramos o relato de casos concretos que ajudam a ilustrar o gráfico:
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"we can see some differences across industries, the more heterogeneous sector is (Manufacture of wearing apparel) (NACE 18), while the (Manufacture of fabricated metal products)
sector (NACE 28) presents the lower dispersion."
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"The import share from low and medium income countries (henceforth, LMCs) differs across industries: not surprising, the largest share of more than 27% is recorded by the sector NACE 18 (Manufacture of wearing apparel)"
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Voltando ao texto das conclusões:)
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"Second, we turn on firm level and we show that behind the negative relationship between dispersion and import penetration from LMCs there are asymmetrical firm responses according to their initial efficiency level.
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We find that more productive firms support more deleterious effects from the increased exposure to foreign competition.
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(Moi ici: A explicação que se segue é estranha, não me soa a mim como razoável)
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We suggest that the surge in imports from emergent countries may have reduced the incentives to innovate and invest, but it may have also stimulated efforts of less productive firms facing with the risk of exit. We put forward also the hypothesis of a process of product-switching."
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Ou seja, a entrada das importações chineses levou a um aumento da dispersão das produtividades dentro de cada sector porque as empresas mais produtivas reduzirem o seu investimento e as menos produtivas aumentaram o seu investimento... não faz sentido.
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Como é que a autora mede a produtividade?
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"We use the value of operating revenues as a proxy for output; the value of firm level tangible
fixed assets as a proxy for fixed capital; and the number of employees and material costs, as proxies for inputs."
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OK, mede o que realmente interessa "operating revenues".
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Antes de avançar com uma explicação alternativa à da autora, vou usar um caso concreto de um sector português, para desenvolver e ilustrar uma narrativa alternativa à da autora.
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Continua.

1 comentário:

CCz disse...

http://www.modaes.es/entorno/20130301/la-industria-de-la-moda-destruye-casi-180000-empleos-en-la-ultima-decada-en-espana.html