sábado, julho 07, 2012

Luís "atirem dinheiro para cima dos problemas" Delgado

Há anos que faço o esforço de ouvir um programa na rádio, na Antena 1, chamado o "Contraditório". Costumava chamá-lo de o "Consistório" porque não havia contraditório nenhum. Contudo, ultimamente, com a saída de Carlos Magno do painel e com a entrada de Raul Vaz, o contraditório surge com muito mais frequência, o que só abona em favor de Raul Vaz.
.
Digo que faço um esforço, porque faço mesmo um esforço, tais são as opiniões mirabolantes que por lá passam. No entanto, procuro ouvir-lo para ter uma ideia de qual é o modelo mental dos lisboetas que vivem do Estado e encostados ao Estado. E esse modelo, acreditem, é tão chocantemente diferente do das pessoas com quem lido todos os dias...
.
Em 2008, em plena crise financeira, quando pessoas como Murteira Nabo proferiam estas barbaridades que me faziam arrepiar:
"O fundamental, neste momento, é que haja investimento. Sob a forma de investimento público ou em articulação com o sector privado. Já nem interessa se esse investimento é rentável ou não."
Dizia eu, em 2008, no Contraditório a dupla Luís Delgado e Carlos Magno passava os programas sempre com o mesmo discurso. Esse discurso, sem ser caricaturado, pode ser resumido em:
"Agora é preciso gastar, gastar, para a economia não colapsar. Depois se vê, quando passar a crise." 
Desde essa altura, cunhei um novo nome para Luís Delgado, nome que uso religiosamente há anos no twitter: Luís "atirem dinheiro para cima dos problemas" Delgado.
.
Escrevo isto porque ontem, durante o meu jogging, ao ouvir o programa na rádio, podem ouvir o podcast aqui,  ao minuto 7:25, ouvi Luís "atirem dinheiro para cima dos problemas" Delgado a classificar o esforço de tanta gente anónima que está a tentar fazer pela vida e, em consequência disso, está a tentar salvar o país,  de "historietas das exportações".
.
Este é um bom exemplo do modelo mental lisboeta...
.
E para calar a revolta que me invade, volto a este texto de Daniel Deusdado, porque me acalma, porque reconheço nele tantos e tantos portugueses anónimos que fazem pela vida:
"No meio disto há muita gente humilde. Quando visito fábricas, encontro homens e mulheres presos a linhas de montagem muito duras para se trabalhar oito horas por dia. Há ruído, há poeiras, há gestos infinitamente mecânicos e repetidos, há uma corrida contra o tempo para se fazer mais e melhor. Por muito que tenham evoluído as fábricas, elas serão sempre um local algo hostil à fragilidade do ser humano. Olho para os operários, para as suas mãos, para a rotina no olhar e na postura, e vejo-os a levar o país às costas de manhã à noite sem ficarem na fotografia - e tantas vezes por 600 euros ou menos. Com a certeza que, muitos deles, para viverem melhor, chegam a casa e vão para a horta trabalhar. É o seu mundo, a sua defesa contra o tempo da escassez."
Anda esta gente a levar o país às costas e, nem imagina o que é que o modelo mental lisboeta pensa delas e do seu esforço...
.
E é triste, esta semana visitei quatro fábricas, três exportadoras e uma quarta que fornecia componentes para exportadoras. Todas transpiravam optimismo: carteira de encomendas OK, feiras feitas com boas reacções dos clientes, algumas até contrataram pessoal!!!
.
E como me disse um dos gerentes de uma ex-startup no mundo de calçado (ex porque já passou a fase de startup com distinção):
"Estamos numa feira em Milão, entre mil expositores, cada um com 300, 400 e até 500 pares em exposição e entra um visitante no nosso stand e olha e pega num sapato... aquele par, entre pelo menos 300 mil pares, tinha algo de especial. Naquele momento, no meio do banho de humildade que é ser-se um no meio de mil, sente-se uma pequena vitória"
Para Luís "atirem dinheiro para cima dos problemas" Delgado é mais uma historieta das exportações...
.
Percebem porque é um esforço ouvir o "Contraditório" e porque teimo em o fazer por causa do lado pedagógico?
.
Há um colega do twitter que me chama masoquista...

Sem comentários: