domingo, outubro 21, 2012

Quem é a audiência? (parte I)

A propósito de "Em crise, os jornalistas devem pensar no negócio", se olharmos para um jornal como mais um tipo de empresa que está a passar dificuldades, qual o primeiro desafio, qual a primeira pedra para uma estratégia acerca de um futuro sustentável?
.
Basta atentar neste título, ou este, ou este, ou mesmo este.
.
Sim, essa é a primeira pergunta, sempre. Por isso, faz todo o sentido a reflexão:
.
"Always Consider The Audience First 
...
a better way of thinking about the business you're in is through the lens of a theory that we call jobs-to-be-done. The basic idea is that people don't go around looking for products to buy. Instead, they take life as it comes and when they encounter a problem, they look for a solution - and at that point, they'll hire a product or service. The key insight from thinking about your business this way is that it is the job, and not the customer or the product, that should be the fundamental unit of analysis. This applies to news as much as it does to any other service.
...
What is the job audiences want done?
What kinds of employees and structure does the company need so it can fulfill that job-to-be-done?
What is the best way to deliver that information to audiences?
One way to figure out what jobs the audience wants to be done is to look at what successful competitors have accomplished and then ask what people were trying to do when they hired the competitor.
...
Successful companies understand the jobs that arise in people's lives and develop products that do the jobs perfectly. And if a company does this, customers will instinctively "pull" the product into their lives whenever that job arises.
The jobs are consistent - it's the products that change What's very interesting about the jobs that consumers want done is that they are consistent over time. As industries are disrupted, different products emerge that are better able to complete the job - but the job stays the same.
...
it's critical to avoid falling into the trap of believing that you can charge for content just because it costs money to produce. (Moi ici: Trabalho não é valor para o cliente. Trabalho é custo! Valor é uma percepção que resulta de uma experiência, ou série de experiências) Instead, the content must be so compelling that users will pay for it. This requires targeting the right jobs.
.
Once managers establish what jobs consumers want done, a series of new questions arises for managers: How can they improve their existing products so they perform the job better than any other competitor? What existing products are no longer competitively viable in serving customers' jobs-to-be-done and should be cut? And finally: What new products could be introduced that address a different job-to-be-done for their audience—or perhaps a new audience altogether?"
.
Tirando o Jornal de Negócios (que compro mais por tributo do que por outra coisa) já quase não compro jornais. A rádio e a internet dão-me quase o mesmo que os jornais, ou que aquilo que realmente encontro com valor para mim num jornal. Por exemplo, recentemente, encontrei esta notícia sobre um tema que me interessa, a economia a sério das PMEs num texto publicado numa rádio local e tive oportunidade de a comparar com um texto do Público...
.
Quando vou ao quiosque onde durante anos comprei os semanários ao Sábado não vejo crise na oferta. Reparem bem na explosão de publicações em papel que ocorreu nos últimos anos.
Muitas delas são é muito focalizadas.
Muitas delas são é dirigidas a um público muito específico.
E sim, se calhar algumas delas não vão sobreviver ao próximo ano.
.
Algo que acho fascinante é a resposta do sector dos media à crise dos jornais. Como baixa a procura, baixa a receita. Como baixa a receita, cortam nos custos. Assim, têm jornais cada vez mais generalistas, mais superficiais, mais cheios de erros, mais cheios de opinião. Resultado, à baixa da procura por causa dos que encontram a alternativa na internet, soma-se a baixa da procura por causa dos que se recusam a comprar baixa qualidade.
Se calhar, a alternativa passaria por publicações mais caras, mais pequenas, mais específicas.
.
O meu conselho para as PMEs que produzem bens transaccionáveis é: não tentem competir com a China nos custos.
O meu conselho para os jornais será: não tentem competir com a Internet (China) nos custos.

BTW, ontem ao jantar o meu filho mais novo, ao relatar um episódio de sexta-feira, mencionou os pedidos insistentes de uma colega ao pai para lhe comprar a revista Bravo.
.
Trechos retirados de "Breaking News Mastering the art of disruptive innovation in journalism" de Clayton M. Christensen, David Skok, e James Allworth

Sem comentários: