domingo, junho 08, 2014

O fuçar pode ser melhorado

Em anglo-saxónico chamam-lhe "Prototyping". Eu, em português chamo-lhe fuçar:
"há coisas que desenvolvo com as empresas como uma tentativa, como o resultado de fuçar e mais fuçar em busca de uma oportunidade, à procura de uma alternativa. O que interessa é a acção e muitas vezes a acção é clara e está já teorizada e testada por alguém. Cada vez mais, vou encontrando a teorização à posteriori... engraçado o sentimento de deja vu, de confirmação, de pensar que "eheheh afinal aquilo era mesmo uma novidade" ou "eheh ainda andam às voltas com isto e nós já lá estivemos""
Ou este:
"O in-breeding das mentes que têm acesso ao mainstream limita tanto o alcance da sua visão que pouco conseguem pescar para lá do universo que habitam e frequentam. Não fazem ideia que, graças a Deus e ao trabalho de fuçar por uma oportunidade, há muitas PMEs exportadoras que depois de um 2010 espectacular, vão ter um 2011 ainda melhor." 
E o que é isto de fuçar?
"Managers have no way of predicting with any certainty what will happen with respect to an industry and its likely evolution, customers and their likely preferences, a firm itself and its potential capabilities and cost structure, and competitors and their likely responses/actions.  We just can’t do it.
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The third approach is to recognize that while the world is complex and uncertain, abdication of choice is not a productive response. This third way treats strategy as prototyping. ... A strategic possibility — a set of answers to the five key questions of strategy (what is our winning aspiration, where will we play, how will we win, what capabilities must we have, and what management systems are required) — is, in fact, a prototype. At first, it is a conceptual prototype. Strategy can be thought of as moving from the conceptual realm to the concrete realm through the process of iterative prototyping.
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The first iteration of prototyping involves asking what would have to be true in order for the initial answers to those five questions to be sound and then testing those answers without actually putting the strategy into action. [Moi ici: Este é o ponto fraco da maioria do fuçar das nossas PMEs. É, por isso, aquele onde talvez possamos dar uma ajuda, ser o advogado do diabo contratado para matar testar essa ideia à nascença] The answers can then be modified and enhanced."
Fuçar é acreditar que quando o mundo muda, e os portões escancarados do passado se fecham, não adianta chorar pelo retorno aos tempos gloriosos, não adianta gritar por hipotéticos direitos/queijos históricos adquiridos, não adianta forçar e tentar fazer mais do mesmo, não adianta pedir ajuda ao papá-Estado...
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É preciso rever as pistas e apelar à criatividade para encontrar uma alternativa... quem é que apesar da debandada nos continua a comprar? Por que continuam a comprar? Quem é que precisa daquilo que sabemos fazer? Onde é que nos perdemos e abandonamos a nossa essência?
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Este tipo de reflexão leva a conclusões. Essas conclusões são materializadas em teorias sobre como podemos criar uma testa-de-ponte para uma nova vida.
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Muitas PMEs fazem essa escolha quase diria de forma inconsciente, por isso vemos taxas de turbulência tão altas, durante anos e anos, em sectores como a restauração, o retalho, ou a construção. Empresas são criadas, num acto voluntarista de quem não sabe viver à custa dos outros, mas sem pensamento estratégico, sem intenção estratégica, sem diferenciação...
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Li há muitos anos, e nunca mais esqueci, uma frase em que Popper dizia que os outros animais são hipóteses e quando a hipótese falha, o animal morre. Continuava ele dizendo que os humanos não precisam de se expor como hipóteses, os humanos podem expor as suas ideias ao teste da realidade, se resultam óptimo, se não resultam, testam outras.
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Fuçar é bom, fuçar é um acto de crença no futuro, apesar das adversidades do presente. Fuçar é um acto de independência. Fuçar é ser optimista. No entanto, o fuçar pode ser melhorado, o fuçar pode ser tornado menos dispendioso, menos arriscado se, em vez de se avançar com a ideia escolhida, consciente ou inconscientemente, se testar essa ideia, primeiro, numa espécie de túnel de vento. Para onde pode estar a ir o mundo onde operam? Essa ideia faz sentido nesse mundo? Quem é que vão servir nesse mundo? Por que é que eles hão-de optar pela vossa oferta? E qual é a vossa essência? Em que é que se distinguem? Em que é que são bons? Que alinhamento no universo se tem de verificar para que essa ideia tenha pernas para andar, para valer a pena ser testada?

Trechos retirados de "Strategy Is Iterative Prototyping"

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