sexta-feira, maio 29, 2015

Dar a volta ao texto

Ontem o JdN publicou um artigo de Nuno Aguiar, "Exportar 100 mil euros já é uma grande conquista", com mensagens algo contraditórias.
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O corpo do artigo usa como exemplo central, a Necton, uma empresa algarvia que produz sal marinho e microalgas, com esta mensagem:
"No caso da Necton, procura-se provar que descer os custos não é a única forma de ganhar competitividade. [Moi ici: BTW, relacionar com isto] "Ela pode ser conseguida aumentando os custos de produção""[Moi ici: Uma mensagem tão em sintonia com a mensagem deste blogue]  
O artigo é sobre o desafio, para as empresas algarvias, de exportar para a Alemanha. Depois, numa coluna, o autor enumera uma espécie de análise SWOT relacionada com o desafio:
"AMEAÇAS
Existe uma concorrência muito elevada no mercado alemão, com empresas internacionais já presentes e um domínio de grandes grupos. Houve também um aumento da exigência de certificações, concorrência de países de mão-de-obra muito barata, alterações ao perfil de consumo e um mercado de vendas online cada vez mais desenvolvido.
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BARREIRAS
Uma grande exigência de qualidade a preços baixos, diferenças na cultura de negócio, dificuldades no primeiro contacto, a língua e uma exigência de investimento.
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OPORTUNIDADES Há uma crescente oferta nacional de produtos. Portugal já tem 3.600 empresas a vender para a Alemanha, onde existe um apetite cada vez maior por produtos que respeitem o ambiente.
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PONTOS FRACOS Há uma ausência de marcas de referência em Portugal, falta material promocional e existem poucos vendedores que dominem a língua alemã."
Esta coluna fez-me recordar "Acerca da análise SWOT e do leite" e, sobretudo ""Assim, partem já derrotados"".
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Uma análise SWOT terá um resultado específico para cada empresa. Aquilo que para umas empresas é um ponto fraco, para outras pode ser um ponto forte e vice versa. Tudo depende da estratégia da empresa. Fazer análises SWOT desligadas das escolhas de uma estratégia não é muito sensato.
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Por exemplo. o texto cita como ameaças tópicos como "concorrência de países de mão-de-obra muito barata,", cita como barreiras "Uma grande exigência de qualidade a preços baixos,", cita como ponto fraco "Há uma ausência de marcas de referência".
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Agora, é comparar esses pontos com o que se diz no texto: "descer os custos não é a única forma de ganhar competitividade. "Ela pode ser conseguida aumentando os custos de produção"". Ou seja, o preço mais baixo não é a vantagem competitiva.
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Agora, é comparar com o que os russos pensam sobre a actuação massificadora espanhola versus o poder da autenticidade portuguesa "A marca Portugal". Assim, a "ausência de marcas de referência em Portugal" pode não ser tão relevante como se imagina quando se pensa na abordagem clássica massificadora. BTW, porque é que as empresas "mittelstand"que constituem o núcleo do sucesso alemão são chamadas de campeões escondidos? Trabalham para nichos. As marcas portuguesas para aspirarem a valor acrescentado têm de trabalhar para nichos.
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Quanto a "existem poucos vendedores que dominem a língua alemã", existem tanto portugueses que vivem ou viveram uma vida na Alemanha e que agora até podem estar reformados. Não haverá um grupo interessado que possa ser escolhido e preparado para usar o seu know-how sobre a Alemanha?

1 comentário:

Zé de Fare disse...

é uma realidade... demasiados anos a ensinar inglês na escola.

Há um pequeno, mini cluster do mar aqui no Algarve.