quinta-feira, outubro 15, 2015

"um atestado de desconhecimento da realidade" (parte II)

Parte I.
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A APICCAPS tem o cuidado de preparar e disponibilizar rapidamente informação estatística sobre o sector do calçado.

Se consultarmos o último World Footwear Yearbok, o de 2015, podemos encontrar, relativamente a Portugal, esta tabela:
Qual o preço médio de um par de sapatos fabricado em Portugal em 2014 e exportado?
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$31.88 USD
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Qual o preço médio de um par de sapatos importado por Portugal em 2014?
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$11.09 USD
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Quem acredita que Portugal exporta mais porque baixa preços e tem salários baixos ainda tem na cabeça um modelo mental da economia mundial onde a Ásia e a África não entravam como produtoras.
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Quem está a par da realidade da economia globalizada conhece estes números:

E percebe logo como a afirmação do doutorado não resiste a um teste simples de confronto com a realidade elementar dos factos.


1 comentário:

Bruno Fonseca disse...

concordo, mas temos que ter em atenção que o calçado é um sector sui generis. é um mercado onde, com relativa facilidade, se consegue criar uma marca, ou pelo menos, consumindo muito menos recursos quando comparando com o têxtil por exemplo. nem há comparação.

se virmos na maioria dos restantes sectores, sendo claro que existem questões intrinsecas a cada um deles, como no têxtil tenho ideia que uma parte importante da "realocação" em Portugal de encomendas deve-se ao preço, mas agora num mercado diferente, ou seja, não no têxtil global (como acontecia até 2008), mas no têxtil "made in Europe". para quem quer "made in Europe", Portugal é o mais barato, e tem ainda a grande benesse de ter uma indústria vertical (desde fiacção até acabamentos) como apenas a Turquia tem ao mesmo nível. por exemplo, no têxtil, tendo uma indústria forte, não conseguimos criar e desenvolver marcas, e uma grande parte da indústria está concentrada e sobrevive graças a salários baixos.

curiosamente, uma indústria que é pouco aqui referida mas que até tem uma situação diferente é a cerâmica. o nosso preço médio de venda é bastante superior ao de Espanha, por exemplo, que se concentrou em vender grandes quantidades essencialmente para o Magreb, com a produção concentrada em Valência. a excepção é mesmo a Porcelanosa, provavelmente a única marca espanhola de requinte, de luxo quase. aliás, a Porcelanosa é mais uma empresa de marca do que uma empresa de cerâmica.
mas fora isso, Portugal tem um nível de qualidade e preço acima da média. e tal como no têxtil, beneficia por um lado dos salários mais baixos na Europa conjugado com acesso facilitado a matérias primas (Portugal deve ser o único país na Europa que não necessita de importar matérias primas de países como Turquia ou Ucrania).

abraço