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segunda-feira, abril 15, 2024

Hype versus orgânico

 Primeiro, li "'You can't cheat the fundamentals': Why Prime has been reduced to the bargain bin", por causa de um tweet de Rory Sunderland.

O pico inicial de vendas, impulsionado pelo hype e pela novidade, muitas vezes não é sustentável. À medida que a novidade passa, o mesmo acontece com o interesse do consumidor se o produto não estabelecer uma posição sólida no mercado ou não atender às necessidades contínuas do consumidor. Ao contrário das marcas que crescem gradualmente e investem no estabelecimento de mercado a longo prazo, as marcas impulsionadas pelo hype podem não investir na infraestrutura e no marketing necessários para sustentar o crescimento inicial. Marcas estabelecidas como a Red Bull demonstraram que uma estratégia de expansão de mercado gradual e controlada pode levar ao sucesso sustentado.

O declínio da Prime no seu segundo ano ilustra que, apesar de um início forte, os princípios fundamentais do marketing - como disponibilidade, aposta contínua de marca, preços correctos e propostas de produtos fortes - são essenciais para o sucesso a longo prazo. Os produtos que aumentam rapidamente em popularidade devido a tendências ou promoção de influenciadores também podem cair rapidamente. Cautela com os modismos.

Depois, li "Calçado: Portugal garante à Veja sucesso no 'slow fashion'" e encontrei uma estratégia oposta à da Prime:

"Em 2005, é lançada a marca, com uma "produção pequena, sem investidores e sem publicidade", uma estratégia que se mantém até hoje, apostada em crescer sempre "de forma sustentável, passo a passo, a partir do passa a palavra, sem pressas". E sem pressas, passaram quase 20 anos, período em que vendeu já mais de 12 milhões de pares de sapatilhas,

...

E como se ganha uma dimensão destas sem publicidade, sem stocks e sem investidores? "Com determinação, com tempo e encontrando parceiros bons. Não temos fornecedores, temos parceiros. E vivemos do passa a palavra. Vivemos num tempo em que todos estão sempre com muita pressa e a publicidade existe para quem quer crescer depressa. Nós não temos essa pressa. Produzimos pouco e crescemos passo a passo, de forma saudável. Acabou o modelo que quer? Daqui por seis meses há mais. E, por isso mesmo, não queremos investidores, este é o nosso projeto de vida, queremos ser livres", sublinha o empresário."

domingo, abril 14, 2024

e sinto que algo não bate certo (parte II)

Esta semana no meio de uma corrida ao final da tarde apalpei as mangas da sweatshirt e sorri. É uma velha sweatshirt com mais de trinta anos. a dobra nas mangas está corroída pelo uso, as costuras em vários locais estão coçadas até mais não, e há muito que deram de si. Estão como aquelas peças da Patagonia que alguns proprietários exibem com justificado orgulho. A minha sweatshirt não é luxuosa, comprei-a num catálogo da La Redoute quando me mudei para Estarreja em 1993. A minha sweatshirt tornou-se luxuosa para mim depois de tantos e tantos quilometros juntos. 

Quantas sweatshirts eu deveria ter comprado ao longo destes trinta anos se me comportasse como um consumidor normal?  Quantos postos de trabalho não se criaram por minha causa?

Acabei de relacionar sustentabilidade, temperança no consumo e uma noção subjectiva de luxo.

Agora quero recordar a minha visão cínica sobre o oxímoro de usar na mesma frase sustentabilidade e fast-fashion: Are you prepared to walk the talk? (parte II).

Agora vamos recordar um postal recente sobre outro oxímoro, luxo e quantidade (luxo e grande escala): e sinto que algo não bate certo.

Na semana passada encontrei este artigo, em inglês (Inglês? Estranho!), "Luxury is the counterpoint to a throwaway economy":

"Shoes, especially women's shoes, have always been an object of desire and a symbol of feminine power, but they have never had the status that they have today. In a more casual world, the trend is to wear and "abuse" sneakers, which have been elevated to cult status, but at the other end of the spectrum, it's also about buying exceptional shoes based on purely emotional attributes. Functionality and comfort are left at the door! And this is where we position the shoe as a luxury item, as we define it by its intangible characteristics of beauty, differentiation, and status. There are many footwear luxury brands, especially in the women's universe, that have been established in the market over the last 20 years, giving the footwear sector a status and a place of its own, separate from fashion and leather goods. 

...

For me, true luxury is knowing that an extraordinary object or experience has been created with me in mind and for me. [Moi ici: Luxo em grande escala? Come on!] In such an anonymous and artificially personalised world, I value real human relationships.

Yes, luxury has a personal meaning and therefore a wide range of meanings. Luxury is ultimately something we lack; it can be recognition and social status, or simply the need for a cool glass of water or to appreciate something beautiful. There is no room for judgment in this area, nor there are any right or wrong answers.

However, I aim to understand luxury from an economic perspective and to add these psychological and sociological levels to determine business and communication strategies. I am also interested in understanding luxury in a more concrete sense, in terms of its impact on society and culture. In this sense, luxury has a more precise understanding.

Can luxury and sustainability go hand in hand?

Of course! They have to be! Let's not forget that the economic model of luxury is precisely the one that encourages the careful protection of timeless products that can be used, repaired and inherited. [Moi ici: Isto não encaixa com "grande escala"] A luxury that respects the craftsmanship, preserves the material and immaterial heritage, and that today plays an important role in cultural patronage. A luxury that also follows a business model and a long-term vision that necessarily requires a more sustainable economic and financial model. Luxury is the counterpoint to a throwaway economy."

Se lerem este artigo na íntegra, a seguir voltem a ler e sinto que algo não bate certo e reflictam... qual o sentido da "grande escala"? Quem querem enganar? Picking winners?

Agoram pensem nas implicações para uma indústria que procura servir o mercado do luxo? Faço aqui um parêntesis para recordar uma empresa que no seu hall de entrada tinha um recorte de jornal afixado na parede. Um recorte que classificava os produtos da empresa como os "Ferrari da indústria". Um dos sócios da empresa uma vez disse-me que não gostava desse título. Perguntava-me:

- Quantos Ferrari se vendem por ano?

Quais as implicações para uma indústria que procura servir o mercado do luxo, em vez de continuar no ritmo do fast-fasion?

A transição de uma indústria do fast fashion para o mercado de luxo pode trazer implicações significativas, tanto positivas quanto desafiadoras. 

Implicações Positivas:

- Margem de Lucro Superiores: Produtos de luxo geralmente tem margens de lucro mais altas devido ao seu valor percebido e à qualidade superior.

- Sustentabilidade: Produtos de luxo tendem a enfatizar a durabilidade e o uso de materiais de alta qualidade, o que pode ser mais sustentável a longo prazo em comparação com o fast fashion, que frequentemente resulta em desperdício e práticas não sustentáveis.

Desafios e Implicações Negativas:

- Custos Iniciais Elevados: A transição para o mercado de luxo pode requerer investimentos significativos em materiais de melhor qualidade, tecnologia de produção avançada e marketing para reposicionar a marca do fabricante.

- Mudança na Cadeia de Fornecimento: Pode ser necessário reavaliar e potencialmente alterar fornecedores para garantir a obtenção de materiais que atendam aos padrões de qualidade do luxo.

- Volume de Vendas Reduzido: Ao contrário do fast fashion, que visa volume e rotatividade rápida, o mercado de luxo foca em exclusividade e vendas menos frequentes de produtos de maior valor.

- Redução do número de empresas fabricantes e com menos trabalhadores.

E mais uma vez recomendo a leitura de e sinto que algo não bate certo

terça-feira, abril 02, 2024

Turbulência e variedade.

Há cerca de um mês no postal Canário na mina escrevia sobre a Ecco'Let estar a anunciar despedimentos. Agora, a notícia de que a Birkenstock vai criar 600 empregos em Arouca.

Parece-me adequado para ilustrar a turbulência em qualquer sector económico. Por trás das médias esconde-se a heterogeneidade dos clientes, dos fabricantes e dos comercializadores. O que pode justificar esta decisão por parte da Birkenstock?

Pelo que pesquisei as vendas directas a clientes, ou seja, fazendo o bypass às lojas multimarca, cresceram de 30% em 2020 para 38% em 2022. O e-commerce agora representa 89% das receitas DTC da Birkenstock, com a empresa a expandir os seus próprios sites de e-commerce para mais de 30 países. A Birkenstock também tem aberto mais lojas próprias, com cerca de 45 localizações até junho de 2023, incluindo em grandes mercados como Nova York, Los Angeles, Tóquio e Londres. A empresa enfatiza que o canal DTC é o preferido, pois oferece maior rentabilidade e melhor acesso a dados de clientes.

Tornar a cadeia de fornecimento mais curta favorece a flexibilidade, a variedade e a rapidez de resposta.

Já quanto à Ecco'Let... será que tem por trás uma descida do calçado de couro?

quinta-feira, março 21, 2024

Por que é que continuamos tão dependentes de fundos europeus?

Este é mais um postal que me faz perder clientes, porque distingo o Carlos consultor do Carlos cidadão.

Ontem no seu programa matinal, "A Cor do Dinheiro", Camilo Lourenço disse que o sector têxtil é um sector de excelência. 


Sabem o que visualizei? 

Isto:
Poucos minutos depois, na rádio Observador, no programa "E o vencedor é...", ao minuto 08:07, José Manuel Fernandes disse:
"Por que é que continuamos tão dependentes de fundos europeus?
Neste caso, pelo que estamos a perceber, toda uma operação [Moi ici: Promoção internacional das empresas] que devia ser suportada por uma indústria, a indústria têxtil e de lanifícios do Norte, toda essa operação era paga em 50%, talvez mais, por fundos europeus."
Confesso que já pensei nisto várias vezes. Dão-se apoios para as empresas participarem em feiras, as organizações empresariais do sector informam-nos que essas feiras foram um sucesso, mas as empresas raramente se tornam independentes e continuam a precisar de doses futuras de apoios.

Porquê?

Por causa da figura acima? 



É-se competitivo sem se ser produtivo? Assim, ganham-se encomendas, mas não se acumula capital... o bom velho Schumpeter. Pagam-se os custos do passado, mas não se pagam os custos do futuro, a tal espécie de esquema Ponzi.

Outro exemplo sobre o qual já escrevi é o do tomate: uma produção tão competitiva, tão competitiva, tão competitiva, que sem apoios de fundos europeus, se afundará.

Remato esta reflexão com um postal que costumo citar aqui:

terça-feira, março 05, 2024

Canário na mina


 No JN do passado dia 2 de Março, "Ecco'Let anuncia processo de despedimento":

"A multinacional do calçado, Ecco'Let, sediada em São João de Ver, Santa Maria da Feira, prepara o despedimento de cerca de 10% dos seus trabalhadores. A informação foi avançada, na manhã de ontem, aos funcionários."

Recordar:

Pois Um click! (Janeiro de 2024). 


Anonimamente o desemprego no sector "Indústria do couro e dos produtos do couro" quase duplicou num ano. Agora está a chegar a uma empresa conhecida e do segmento alto. A APICCAPS fala no luxo, mas ... 

quinta-feira, fevereiro 22, 2024

e sinto que algo não bate certo

Pensem no que tenho escrito aqui nas últimas semanas sobre o calçado:

O sector do calçado vai encolher, e vai ter de subir ainda mais na escala de valor, ou seja, vai ter de anichar e trabalhar para segmentos de muito maior valor acrescentado, luxo mesmo talvez.

Lido no Público de 20.02, "Calçado prepara salto para competir pelo luxo em grande escala".

"Um salto. É disto que o calçado português precisa para não ficar encurralado entre dois problemas que o ameaçam: o risco de perder para a concorrência a guerra comercial pelo segmento médio; e a incapacidade de satisfazer as grandes encomendas de calçado mais caro, seja de marcas de luxo ou de calçado técnico. Sem preço e sem escala, não há saída. Mas em Estarreja estão a abrir-se portas que evitem esta "armadilha do segmento médio".[Moi ici: Olha o tema do stuck-in-the-middle]

...

Com a subida dos custos de produção, Portugal deixou de ter preço para competir com outros países, de baixos salários, que usam esse "trunfo" para oferecer preço baixo e ganhar as encomendas do segmento médio. A alternativa, espelhada no que as empresas portuguesas estão a mostrar desde domingo em Itália, é o calçado mais caro, de moda ou técnico. Mas aí coloca-se o segundo problema: falta capacidade de produção em larga escala. O que pode ser solucionado com as máquinas e o software que Portugal criou e já se encontra em teste na empresa de Estarreja. Em causa está uma resposta às grandes marcas de moda internacional que procuram países fornecedores de calçado com capacidade de entrega de grandes volumes. Um assunto crítico sempre que se pensa em Portugal, e que pode ser ilustrado com o recente desfecho anunciado pela marca francesa Veja, muito popular em todas as geografias.

...

Para não concorrer pelo preço baixo, as fábricas portuguesas terão de assegurar encomendas de gama alta, moda e luxo, ou gamas específicas como o calçado técnico. Para isso, é fundamental ter capacidade de resposta a grandes encomendas. O que, por sua vez, obriga a repensar a forma como se trabalha.

Luís Onofre, presidente da Apicapps, já o disse, na recente entrevista ao PÚBLICO: muita gente vai ter de se mentalizar de que é preciso fazer menos coisas, mas melhores. O que se pode traduzir em menos segmento médio em que o preço baixo é o factor crítico, e apostar em fazer mais para os segmentos mais exigentes.

...

Tal como uma companhia de aviões quer os aparelhos o menos tempo possível em solo, também uma fábrica de calçado quer as máquinas sempre a trabalhar. Mudar entre produtos obriga a pará-las. "Com inteligência artificial, visão artificial e robotização, será possível mudar muito rapidamente de série, reduzindo ou eventualmente eliminando até esses tempos mortos", esclarece a gestora.

Para Reinaldo Teixeira, há outra vantagem: "Os robôs que esta tecnologia vai trazer consigo não trabalham apenas oito horas, como um ser humano. O que permite pensar num segundo turno, ou até num terceiro, caso seja necessário.".""

Leio e releio o artigo e sinto que algo não bate certo... sinto a sensação de "stuck-in-the-middle", logo a começar pelo título, "luxo em grande escala". Se tem escala não é luxo. Depois "países fornecedores de calçado com capacidade de entrega de grandes volumes" versus "muita gente vai ter de se mentalizar de que é preciso fazer menos coisas, mas melhores". (Nota: parágrafo corrigido às 08h26)

Já agora a APICCAPS tem centenas de associados, será que a sua direcção já teve uma conversa franca sobre o futuro com os associados? Não creio que todos estejam a par dos dilemas do futuro, ou tenham capacidade para sobreviver no futuro. 

Agora uma pergunta séria e honesta, não sei mesmo, não estou a ser irónico, como é que uma associação lida com o facto de ter de "pick winners" entre os seus associados?  

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Precaução e optimismo (parte II)

Na parte I sublinhamos, acerca do aumento do preço médio do calçado português:

""Em 2023, o preço médio de venda nos mercados internacionais ascendeu a 27,70 euros (+3,45%), continuando a ser o segundo mais caro do mundo. Um aumento que, reconhece ao ECO o porta-voz da associação do setor (APICCAPS), Paulo Gonçalves, é "insuficiente face ao impacto da atualização do salário mínimo nacional e mesmo do aumento das matérias-primas", o que obriga a "acelerar a migração dos produtos para segmentos de maior valor acrescentado"."

Entretanto li "Custo do trabalho aumentou 5,3% em 2023":

"O Índice do Custo de Trabalho (ICT) aumentou 5,3% em 2023 face ao ano anterior, uma aceleração face aos 3,2% em 2022, anunciou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).

...

Já o custo médio por trabalhador aumentou 7,1% em 2023 (4,4% em 2022) e o número de horas efetivamente trabalhadas por trabalhador subiu 1,8% (1,2% em 2022).

Em termos de atividade económica, o custo do trabalho na indústria subiu 5,6%, na construção 5,7% e nos serviços 5,3%, contra 5,5%, 5,8% e 4,3%, respetivamente, em 2022."

Se calhar errei nos cálculos que fiz para chegar aos 14%, se calhar é muito mais do que isso. 

Há ainda que acrescentar:

"Os custos não salariais registaram aumentos entre 6,1% nos serviços e 11,4% na construção."


Isto ilustra aquele quadrante do empobrecimento que costumo referir aqui. Considerem o aumento de custos desde 2015, sobretudo nos últimos 3 anos, e as exportações estagnadas, as vendas estagnadas. Umas empresas fecham, outras encolhem, outras empobrecem, outras conseguem bons resultados porque trabalham para nichos e outras passam a pôr etiquetas made in Portugal para algo basicamente feito fora da Europa.

sexta-feira, fevereiro 16, 2024

Precaução e optimismo

Na sequência de Outra coisa que me faz espécie e do Recordo o eu consultor versus o eu cidadão encontro um artigo do ECO, "Fábricas portuguesas perdem dez milhões de pares de sapatos.

Uma nota de precaução e uma nota de optimismo.

Vamos primeiro à precaução:
"Em 2023, o preço médio de venda nos mercados internacionais ascendeu a 27,70 euros (+3,45%), continuando a ser o segundo mais caro do mundo. Um aumento que, reconhece ao ECO o porta-voz da associação do setor (APICCAPS), Paulo Gonçalves, é "insuficiente face ao impacto da atualização do salário mínimo nacional e mesmo do aumento das matérias-primas", o que obriga a "acelerar a migração dos produtos para segmentos de maior valor acrescentado"."

Quando aqui referi o encerramento da Discoteca Amália por causa do aumento da renda era como uma ilustração do sublinhado acima. Recordar os 14% que referi há dias em Outra coisa que me faz espécie. É a isto que chamo empobrecimento por erosão, ser competitivo sem aumentar a produtividade.

Vamos à nota de optimismo. 

Isto anda tudo ligado... o final da frase citada acima:

"o que obriga a "acelerar a migração dos produtos para segmentos de maior valor acrescentado""

Sinal de que o sector continua focado no essencial. Só aqui, a mensagem aparece 5 vezes.

Outra citação:

"No último ano, enquanto as exportações de calçado encolheram 8,2%, as vendas no exterior de artigos de pele e marroquinaria cresceram 14%, para 310 milhões de euros, e nos componentes aumentaram 12,3%, para 73 milhões de euros. Valores e competências que estão a levar a associação a reforçar lógica de fileira e a encarar estes dois segmentos como "estratégicos" na afirmação da indústria nacional de calçado."

Items que teoricamente podem libertar um maior valor acrescentado bruto por trabalhador. Talvez por isso no último número de Facts & Numbers, de 2023, já se tenham acrescentado números das unidades de componentes e artigos de pele:



sexta-feira, janeiro 26, 2024

Análise do contexto, again

Trecho retirado do WSJ de ontem em "Retailers Shift Inventory Strategy".

"Retailers are reviving an old playbook to manage their inventory levels after four years of struggling to find the sweet spot of holding enough merchandise but not too much.

Merchants have worked through the excess inventory that piled up on store shelves and in warehouses over the past 18 months, and are now focusing on replenishing items rather than stocking up on goods to have on hand in case of supply-chain disruptions. The shift marks a return to the "just-in-time" inventory management strategy many companies had employed before pandemic-driven product shortages and volatile shifts in consumer demand prompted a switch to a "just-in-case" stockpiling approach.

Jamie Bragg, chief supply chain officer at Tailored Brands, said just-in-time inventory management is the goal. The Houston-based parent company of Men's Wearhouse and Jos. A. Bank worked over the past few years to get better visibility into orders that are still in production overseas, positioning it to adjust orders based on demand, he said.

...

Terry Esper, a logistics professor at Ohio State University, said companies are now better able to predict shopper demand and feel they can hold leaner inventories amid moderating spending growth and fewer supply-chain disruptions.

"Retailers have more confidence in the overall supply chain and the logistics network and the environment, and as a result, they're saying, 'Hey, I think we're at a point now where we're safe to go back to just-in-time," Esper said.

Companies typically prefer not to hold large inventories because the excess stock ties up capital, requires more space and people to manage it and runs the risk of becoming outdated as trends change, logistics experts say.

Retailers have been working to get inventories back in line with sales after bringing in too much merchandise that was no longer in demand in 2022 as consumers shifted spending from items such as home decor to office apparel and then toward travel."

Que implicações para fabricantes europeus que forneçam estes retalhistas?

  • Encomendas mais pequenas
  • Aumento da volatilidade da procura
  • Necessidade de mais flexibilidade e capacidade de resposta
  • Maiores requisitos de colaboração
  • Potencial para aumento da complexidade logística.

  • Riscos e oportunidades para os fabricantes europeus:

    Riscos:
    • Instabilidade financeira: tamanhos e frequência de encomendas flutuantes podem levar a fluxos de vendas menos previsíveis.
    • Aumento dos custos operacionais: Expedições mais pequenas e mais frequentes podem aumentar os custos de transporte e logística.
    • Desafios de produção: Adaptar os processos de produção para atender à maior variabilidade e ao imediatismo dos pedidos JIT pode ser um desafio.
    Oportunidades:
    • Parcerias mais fortes: Uma colaboração mais estreita com os retalhistas pode levar a relações mais fortes e de longo prazo.
    • Capacidade de resposta ao mercado: Os fabricantes que se adaptam de forma eficaz podem responder melhor às tendências e exigências do mercado, ganhando potencialmente uma vantagem competitiva.
    • Diversificação da base de clientes: A necessidade de mitigar o risco pode encorajar os fabricantes a diversificar a sua base de clientes e reduzir a dependência de um único retalhista.
    Riscos e oportunidades para este tipo de retalhistas

    Riscos:
    • Perturbações na cadeia de abastecimento: A dependência do JIT pode tornar os retalhistas mais vulneráveis a perturbações inesperadas na cadeia de abastecimento, o que pode levar a rupturas de stock.
    • Aumento da dependência dos fornecedores: A entrega pontual torna-se crucial, aumentando a dependência da capacidade dos fornecedores de cumprir prazos apertados.
    • Volatilidade do mercado: Mudanças rápidas na procura dos consumidores podem representar desafios na manutenção de níveis ideais de inventário.
    Oportunidades:
    • Custos de stock mais baixos: Níveis mais baixos de stock podem reduzir os custos de armazenamento e transporte.
    • Maior flexibilidade: o JIT permite que os retalhistas sejam mais ágeis na resposta às tendências do mercado e às preferências dos consumidores.
    • Melhor cash flow: Ao reduzir o excesso de stock, os retalhistas podem melhorar seu cash flow e alocar recursos de forma mais eficiente.
    Prepare-se, atenção à liquidez ou linhas de crédito para lidar com períodos de procura incerta ou mudanças rápidas no mercado, diversifique a base de clientes para não depender excessivamente de um pequeno número de grandes retalhistas, melhore a integração com os sistemas TI dos clientes.

    O resto já sabe daqui do blogue: Aumentar a flexibilidade e agilidade na produção, foco na qualidade e inovação.

    quinta-feira, janeiro 25, 2024

    Um click!

    Em Explicar o mais importante (parte I) inclui esta figura:


    Olhando para o Painel B tive um click que me fez recuar até a um livro que li em 2008 - "Value Migration" (1996) de Adrian Slywotzky. O autor definiu value migration como: 
    “Value migration is the shifting of value-creating forces from declining or outmoded business models to fresh business designs that more effectively satisfy customers’ needs and priorities.”

    O autor aplica a migração de valor a 3 tipos:

    1. a migração de valor entre indústrias ou sectores económicos
    2. a migração de valor entre empresas  
    3. a migração de valor entre áreas de uma empresa.
    Segue-se um esquema que representa o ciclo de vida típico de um sector económico, ou de uma empresa. 

    Foi deste esquema que me lembrei ao rever o tal painel B.

    Na capa do JN da última terça-feira podia ler-se "Desemprego aumentou mais a Norte e castigou setores do calçado e têxtil" no miolo lia-se:
    "Porto, Felgueiras, Guimarães e Braga são dos concelhos que espelham maior aumento do número de desempregados, revelando que é sobretudo nos territórios com mais indústria, no Norte do país, que as pessoas estão a perder o sustento. É ali que estão muitas das fábricas, nomeadamente de calçado e têxteis, dois dos setores que, segundo o Instituto de Emprego, estão a ser mais fustigados pelo desemprego: a indústria do couro lidera, seguida de perto pela fabricação de minerais não metálicos e pelo vestuário."

    Penso que uma parte desta evolução é causada por factores conjunturais - se a economia nos mercados compradores afunda, claro que a procura baixa. No entanto, a grande pergunta é: quanta desta evolução é causada por factores estruturais?

    Em conversa recente com alguns empresários do calçado julgo que a maioria pensa que isto é conjuntural. Eu, pelo contrário, julgo que existe uma corrente estrutural que não deve ser menosprezada.  

    Os fabricantes portugueses foram capazes de evoluir de sapatos a 3€ o par para sapatos a 30€ o par, para isso tiveram de mudar de mercado, deixar o mercado interno, tiveram de ter fábricas mais pequenas e mais flexíveis. À medida que os custos sobem, e o preço de venda pouco mexe, cada vez mais empresários vão sentir dificuldades em continuar a manter as suas empresas a funcionar. Alguns, poucos, conseguirão evoluir para nichos onde os preços praticados são mais altos, mas precisarão de empresas ainda mais pequenas. A imigração, tal como na agricultura intensiva no sul do país, permitirá manter por mais tempo as empresas a funcionar com mão de obra barata (recordo as bofetadas).

    Como poderá um empresário do calçado em Portugal pensar o futuro? Que diferentes vias pode seguir?

    quarta-feira, janeiro 10, 2024

    Esta pergunta é genuína, mesmo. (parte II)

    Comunico que me informaram da razão para a dificuldade de atracção referida na parte I


    Agora fica tudo mais claro. A navalha de Occam funciona mesmo, a explicação mais simples é a preferível.

    O marketing é extraordinário.


    domingo, janeiro 07, 2024

    Esta pergunta é genuína, mesmo.

     No Dinheiro Vivo de Ontem em "Luís Onofre "Ajudámos os bancos na altura da troika, é tempo dos bancos ajudarem as empresas"" sublinhei:

    "A falta de mão-de-obra ainda é um problema?

    A especializada, sim. Eu tenho um défice de quase uma dúzia de pessoas na minha empresa e não consigo arranjá-las. E para a conseguirmos especializar um trabalhador é muito complicado, as pessoas acabam por desistir e preferem ir para restauração e o turismo."

    Tão estranho... a empresa de Luís Onofre não será das mais pobres do sector e, mesmo assim, não consegue ser mais atraente que a restauração e o turismo? Por que será? 

    Esta pergunta é genuína, mesmo.

    terça-feira, novembro 14, 2023

    A possibilidade do optimismo

    Ontem, no postal "Espero que não vos tremam as pernas quando as empresas começarem a cair como tordos" (Parte III) mostrei esta tabela:
    Fiquei satisfeito com a evolução dos produtos farmacêuticos. Recordo da semana passada, Menos dor na transição, este trecho:
    "É uma boa notícia e um exemplo concreto da teoria dos Flying Geese."
    Sobre a instalação de uma empresa farmacêutica no reino do calçado.

    O calçado, o têxtil e vestuário estão em queda? Sim, mas isso terá de ser a tendência para criar o nível de produtividade desejado no futuro. 

    O que é que o JdN de ontem escolheu para abordar?

    Na capa:

    Pena que não tenha salientado o lado positivo. Em 10 anos as exportações de produtos farmacêuticos cresceram quase 270%, as de calçado cresceram 10%.


    BTW, na mesma capa, ao lado, outro título:








    quarta-feira, outubro 04, 2023

    "Os Anos do Absurdo" (parte II)

     Há dias escrevi sobre o tempo que vivemos e como pode ser apelidado de “Os anos do absurdo”.

    Por exemplo, conciliar o querer um novo aeroporto em Lisboa, quando ao mesmo tempo se está contra o consumo de combustíveis fósseis, quando ao mesmo tempo se está contra o excesso de turismo, quando ao mesmo tempo se está contra a gentrificação.

    Hoje o JdN traz um conjunto de entrevistas com responsáveis de associações empresariais. Um tema recorrente entre os vários entrevistados, e que é sintoma de mais um absurdo que os jornalistas são incapazes de questionarem, é o tema do sector que “bomba”, do sector que tem falta de trabalhadores, mas ao mesmo tempo não consegue acumular capital.

    Não há ninguém que se questione como é que a maioria das empresas num sector económico estão cheias de trabalho e, no entanto, não ganham dinheiro?

    Como é que se consegue ser competitivo

    Pelo preço ou pelo valor. Quando só se consegue ser competitivo pelo preço e não se ganha escala, porque não faz sentido, porque não é possível, o resultado garantido é o empobrecimento. O sucesso comercial não se traduz em sucesso financeiro. Assim, até se podem pagar os custos do passado, mas não se conseguem pagar os custos do futuro. 

    Costa disse que a realidade anda mais depressa que a capacidade do governo legislar. Isso fez-me lembrar os ciclos viciosos que se autocatalizam. Já aqui relacionei esta situação com o esquema Ponzi invertido, os clientes actuais são servidos à custa dos clientes futuros, até que deixa de ser possível manter o esquema.

    terça-feira, agosto 29, 2023

    Falta a parte dolorosa da transição (parte III)

    Parte I e parte II.

    O que escrevi na parte I?
    "O período 3 é falso, é rotundamente falso porque falta a parte dolorosa da transição. Falta criar as condições para os flying geese (A mudança bottom-up!The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!). É preciso deixar as empresas morrer (e como isto é dificil politicamente, os desempregados são eleitores). No entanto, o que se faz é apoiar essas empresas para que dêem o salto de produtividade ... a sério?!"

    Afinal, os apoios nem são para ajudar as empresas a darem o salto de produtividade. Ontem no JN em "Desemprego atinge os concelhos industriais" li:

    "TRABALHO Os concelhos com maior propensão industrial foram os que registaram os maiores aumentos do desemprego nos últimos 12 meses. Mais de metade dos novos desempregados estáno Norte, sobretudo onde predominam os setores do têxtil e do calçado, que se queixam de falta de encomendas. Para travar os despedimentos, o Governo prepara-se para suportar parte do salário dos trabalhadores que estão parados.

    ...

    O setor do couro teve o maior aumento do desemprego, 15,4% Superior ajulho de 2022, e há empresários do calçado que pedem medidas para evitar "despedimentos em massa" (ler texto na página seguinte). Já o têxtil e o vestuário viram o desemprego subir acima dos 12%, porque "as empresas tiveram uma diminuição acentuada da procura", assinala Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. Isto deve-se à conjuntura internacional que arrefeceu os mercados europeus, o que levou a que o retalho vendesse menos do que o esperado no ano passado, gerando-se "excesso de stock" que, este ano, se repercute num travão das encomendas, acrescenta. [Moi ici: Ainda ontem à tarde na RTP 3 ouvi uma declaração do presidente da ATVP sobre o têxtil e a sustentabilidade em que, entre outras coisas, dizia que era preciso aumentar o tempo de vida do vestuário. Eu sorri e pensei no impacte desse justo objectivo na rentabilidade das empresas e no emprego têxtil]

    ...

    O JN sabe que se trata de um programa dirigido aos trabalhadores das indústrias afetadas pela quebra de encomendas, nas quais se inclui o têxtil e vestuário.

    A ideia é que o IEFP financie uma parte dos salários, desonerando as empresas que, de outra forma, teriam de recorrer ao lay-off ou despedir. A portaria que regulamenta o programa será publicada no inicio de setembro e as formações devem arrancar nesse mês. A duração prevista é até ao final do ano, mas os empresários veem vantagens em prolongá-lo a 2024. [Moi ici: Entretanto, o presidente da Associação das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC), César Araújo, diz que apesar do desemprego as empresas não conseguem contratar]"

    Recordar Tudo vai depender do tal jogo de forças (parte VI)  onde se fala da inversão de ciclo nas exportações portuguesas.

    É o medo atávico dos governos portugueses, que não querem deixar as empresas morrer e, por isso, amarram recursos escassos a empresas zombie.

    quinta-feira, agosto 10, 2023

    Exportações - sobre o primeiro semestre de 2023

    Como referi em Inversão de ciclo até que ponto a metalomecânica está a ser, vai ser, o equivalente ao têxtil nos anos 70?

    Os animais vivos e aas preprações hortícolas continuam a sua estória de sucesso.

    Um lado que estas análises não revelam encontra-se neste artigo "Franceses e alemães ajudam a aliviar perdas das exportações têxteis em julho":
    "Em termos de grandes categorias de produtos, as exportações de matérias têxteis caíram 7% em volume e 1% em quantidade, valor enquanto nos têxteis-lar e outros artigos têxteis confecionados baixaram 9% em volume e 17% em valor. [Moi ici: Em tempos de crise o têxtil sofre logo] Já o vestuário, embora tenha vendido menos peças lá fora (-8%), conseguiu vendê-las mais caras (+9% em valor)."[Moi ici: Apesar de tudo, um bom sinal]
    Um acompanhamento pessoal, o vinho. Daqui "Exportações de vinhos portugueses sobem quase 4% para 447,6 milhões até junho":
    ""Nos primeiros seis meses do ano, as exportações totais de vinho atingiram os 447,6 milhões de euros, 158,3 milhões de litros, a um preço médio de 2,83 euros por litro",[Moi ici: Come on, que preço mixiruca é este?] indicou, em comunicado, a ViniPortugal. Em comparação com o mesmo período de 2022, verificou-se um crescimento de 3,4 milhões de litros nas exportações em volume, 16,8 milhões de euros em valor e 0,05 euros no preço médio."




    quarta-feira, julho 26, 2023

    Luxo, ambiente, massas, caça, salários e calçado

    (X) Por que é que os portugueses, genericamente falando, não compram sapatos Made in Portugal?

    (Je) - Por que são demasiado caros para a bolsa-tipo portuguesa.

    (X) Por que é que as fábricas portuguesas não produzem calçado mais barato que possa ser comprado por portugueses?

    (Je) - E depois, como se pagavam os salários e as matérias-primas?

    Para que os salários possam subir há que aumentar o valor acrescentado. Para aumentar o valor acrescentado  há que aumentar o preço médio de cada par de sapatos. Para aumentar o preço médio de cada par de sapatos há que procurar clientes que os possam pagar.

    Claro que há outra forma de aumentar o valor acrescentado: reduzir o custo unitário, praticar preços mais baixos e aumentar a quantidade produzida e vendida. Só que isso implica ter vantagem competitiva no custo e isso é incompatível num produto com muita mão de obra incorporada e situado na Europa Ocidental.

    Escrevo isto a propósito de um texto publicado no semanário Expresso no Sábado passado: "Especulação Já não há hotéis na terra da fraternidade e uma noite num dos empreendimentos de luxo pode chegar a €1650 - Zeca Afonso teria de "montar uma tenda para dormir" " em Grândola""

    Estou a lembrar-me dos anos a seguir à revolução de 74 e dos milhares de caçadores anónimos que íam caçar para o Alentejo em regime de caça livre (não havia outro e era um direito de Abril).

    Eu nunca ocuparei esses empreendimentos turísticos em Grândola, porque não tenho dinheiro para isso e porque não fui educado nesse estilo de gasto e de vida, mas não consigo deixar de pensar que talvez esse nível de preços proteja a região do turismo de massas e permita pagar melhores salários.

    sexta-feira, julho 07, 2023

    Será que a podem transformar numa oportunidade?


    Como auditor de sistemas de gestão da qualidade gostava de encontrar mais sistemas de gestão. 

    Por exemplo, auditar um sistema de gestão em que a análise de contexto transpira temas realmente importantes e não palha para alimentar auditor. 

    Ontem no FT, em "EU set to make textile industry pay for waste", encontrei um tema que ainda não vi tratado nas empresas têxteis e de calçado:
    "The EU wants the textile industry to pay for the processing of discarded clothing and footwear under new rules aimed at cutting the environmental footprint of fast-fashion brands.
    ...
    The equivalent of 12kg of clothes and footwear per EU citizen is discarded each year of which more than three-quarters is incinerated or goes to landfill, according to commission data. The consumption of clothing and footwear is expected to increase by 63 per cent from 62mn tonnes in 2019 to 102mn tonnes in 2030. European Environment Agency data suggests.
    ...
    "Fast fashion is a problem,""
    Em tempos escrevi aqui sobre os rinocerontes cinzentos. Rinocerontes cinzentos são ameaças altamente prováveis, de alto impacto e frequentemente negligenciadas. São diferentes dos cisnes negros, que são eventos imprevisíveis e inimagináveis.

    Qual o impacte desta medida nos fabricantes portugueses? Será que a podem transformar numa oportunidade?

    Um risco é algo que pode acontecer, mesmo que não façamos nada.
    Uma oportunidade só pode ser aproveitada se for trabalhada com antecedência. Nunca esqueça o que aprendi na aula de despedida de um professor: Sorte ... quando a preparação encontra a oportunidade.

    E depois, um ditado asiático: “As oportunidades multiplicam-se à medida que são aproveitadas”

    Numa empresa com um sistema de gestão um tema destes não passa despercebido, motiva reflexão, decisão e acção.

    sábado, maio 20, 2023

    Vergonha alheia…

    Vergonha alheia!

    Tanta conversa sobre marca, preço de venda, design … mas afinal corremos o risco de deslocalização quando o aumento dos salários é superior ao da produtividade.

    Wait! Em que gama de valores é que os salários têm crescido mais do que a produtividade?

    Há tempos tive a conversa sobre o salário do motorista de autocarro que sai de Lago na Nigéria para fazer o mesmo em Oslo, ou sobre o barbeiro tuga que vai para Londres fazer o mesmo. A sua produtividade física mantém-se, mas a sua produtividade efectiva aumenta drasticamente porque as comunidades em que ficam inseridos podem suportar serviços pagos a um preço muito superior.

    Como é que num mesmo país isto pode acontecer? Quando as pessoas migram de uma ocupação numa área para outra ocupação numa outra área?

    Esta conversa parece retirada do guião de Ferraz da Costa… o que não é propriamente um elogio.

    Representa uma mudança no discurso …

    Continua

    sexta-feira, maio 12, 2023

    Emprego, marketing e subida na escala de valor

    Ontem escrevi Momento, preço, valor, modelo de negócio e futuro sobre o quanto em Portugal se patina quando o tema é subir na escala de valor.

    Ontem no JdN em "Emprego de licenciados com destruição recorde" podia-se ler:

    "Num ano, desapareceram 105 mil empregos de licenciados.

    ...

    O emprego só atingiu novo máximo no primeiro trimestre - crescendo menos do que o desemprego - por ter sido puxado por sectores como o alojamento e restauração ou a construção. Em ocupações mais qualificadas, pelo contrário, o emprego recuou.

    ...

    nos dados mais detalhados, surgem assimetrias em função do nível de escolaridade. O emprego até cresce para menos qualificados, mas destaca-se a quebra de 6,1% entre quem tem o ensino superior. Apesar disso, o desemprego entre os licenciados não aumenta tanto (+2.7%). É que tanto na população ativa como na população total, os licenciados sofrem quebras próximas de 6%.

    ...

    "Aquilo que temos visto é a subida dos salários de sectores menos qualificados, pelo salário mínimo e pela própria dinámica de procura de emprego do turismo, dirigida a pessoas menos qualificadas, que tem aumentado o salário. Por outro lado, os salários reais dos qualificados com formação superior, têm vindo a cair. O prémio salarial associado à escolaridade caiu para os mais jovens de forma muito significativa nos últimos anos. E um incentivo adicional à emigração". Há, segundo economista. uma "recomposição do mercado de trabalho" Torna-se mais atractivo para imigrantes não qualificados - os salários dos não qualificados estão a subir e há oportunidades de emprego -e torna-se menos atractivo para os mais qualificados".

    No ECO o meu lado cínico foi despertado em "Calçado entra em 86 escolas para atrair jovens para as fábricas". Como é que o marketing abalroará a experiência que os jovens têm com os familiares que trabalham ou trabalharam no sector do calçado?

    "preço médio de venda dos sapatos portugueses para os mercados internacionais ascendeu a 26,40 euros em 2022. Um crescimento de 8,7% em relação ao ano anterior"

    Quanto é que aumentaram as matérias-primas e a energia? Quanto sobrou para o aumento dos salários? Quanto maior o sucesso das empresas a captarem os futuros trabalhadores para estes sectores, menos haverá para os outros sectores com mais valor acrescentado bruto.

    Recordar:

    • "Falta de mão-de-obra dificulta resposta à procura crescente da produção nacional. Salário médio no setor cresceu 40% numa década, situando-se nos 871 euros em 2019" (fonte)
    • "Há empresários preocupados com o efeito do aumento do salário mínimo na competitividade na indústria portuguesa" (fonte)
    Ainda de ontem:
    • "Key to artisanship is there being few artisans. Specifically, the existence of scarcity." (fonte)
    Parece que o ministro da Economia não percebe a pirâmide dos Flying Geese:
    "A questão dos salários é decisiva para o futuro dos trabalhadores e das empresas. Se tivermos salários baixos, a economia nunca se vai desenvolver. Esse problema está umbilicalmente ligado com algum esforço que tem vindo a ser feito para aumentar os salários", apontou Costa Silva, em resposta ao PCP, na comissão parlamentar de Economia." (fonte)