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terça-feira, setembro 12, 2017

Será que...?

Quando comento o pensamento da tríade, daqueles que continuam encalhados no século XX, normalmente adopto um registo irónico. Por isso, por exemplo, costumo compará-los a uma espécie de Saruman no alto da sua torre isolado do resto do mundo.

Por exemplo, e peço desculpa por voltar a usar estes exemplos, quando Sérgio Figueiredo em 2005 decretava a morte do calçado português, ou quando André Macedo em 2008 fazia a missa do sétimo dia do têxtil português, ou quando Vítor Bento em 2013 tecia loas às vantagens competitivas do século XX, ou quando Pais Mamede em 2015 explicava o sucesso das exportações portuguesas, eu não podia deixar de ficar incrédulo, eu não podia deixar de me rir porque todos os dias via exemplos reais, exemplos anónimos, de quem estava a dar a volta por cima, com vantagens competitivas completamente ao arrepio do enquadramento do século XX.

Neste texto, "Os trabalhadores sabem mais mas a produtividade baixou. Porquê?", sinto que o autor, que julgo que continua encalhado no século XIX, e isso é oura estória, adopta um registo esquisito...

Acreditar que a produtividade cresce automaticamente só porque os trabalhadores têm mais escolaridade é tão básico... tão errado.

Falar da produtividade e do emprego em 2008 sem falar da insustentabilidade dessa mesma economia, sem referir o BES, sem referir as obras públicas, sem referir as limitações dos algoritmos de cálculo da produtividade, parece-me pouco.

Falar da produtividade acreditando em modelos lineares, sem admitir informação incompleta e sem admitir erros de percepção e decisão dos agentes económicos, parece-e pouco.

O autor termina sugerindo algo que é corriqueiro neste blogue:
"Para encontrar respostas para diagnosticar o que parece ser uma doença estrutural, a primeira coisa que devíamos estudar é tão óbvia que parece mentira ninguém o fazer: temos um problema de produtividade ou temos um problema de produção? Aquilo que cada empresa faz, aquilo em que cada trabalhador labora, as grandes apostas da economia real do país têm condições para gerar, realmente, a riqueza que precisamos de criar? Estou a achar que não..."
Há milhares de anos que neste blogue defendemos que há muito maior potencial de aumentar a produtividade actuando sobre o valor co-criado, sobre o que permite aumentar o preço unitário num mercado competitivo, do que actuando sobre o que permite reduzir os custos unitários.

Fico com a ideia de que o autor acredita que devia haver um Cybersyn que estipulasse o que cada empresa devia produzir, e até que as empresas menos produtivas deveriam ser expropriadas para serem geridas por iluminados cheiros de escolaridade académica.

Gostava que fosse possível criar uma Matrix que simulasse estes mundos socialistas crentes num Grande Geometria, num Grande Planeador, numa economia planificada.

Acredito que o aumento da produtividade é em primeira medida da responsabilidade de quem decide o que produzir para que mercados e a que preços. No entanto, também acredito que é um trabalho a fazer empresa a empresa, e creio que nenhuma empresa deve ser "obrigada" a seguir caminhos que os seus proprietários legítimos não querem seguir ou têm medo de seguir. Qual a alternativa?

Algo que o autor do texto considera blasfémia!

Deixar o mercado funcionar, deixar de proteger as empresas com regras e leis feitas à medida. Quem tiver unhas e for capaz de encontrar um nicho que o sustente tem direito à vida, os outros adeus.

BTW, será que o autor estaria de acordo com o encerramento do jornal onde escreve, um jornal que manifestamente não cria a riqueza capaz de o sustentar? Será que o autor estaria de acordo com eliminar os apoios à produção de leite que protegem os produtores com menor produtividade?



sábado, setembro 02, 2017

Comprem um cão!


Há dias critiquei quem, sem noção da realidade, montava esta extraordinária mistificação:
"É bom que António Costa sublinhe a importância da educação e da ciência, uma feliz recuperação das políticas de Mariano Gago que, ao contrário do que a direita neoliberal apregoava, foram decisivas para que a agricultura, a têxtil ou o calçado sejam o que são hoje."
O economista César das Neves escreveu uma vez sobre aqueles que pedem ao ministro da Economia de turno, que diga aos empresários o que devem fazer, qual a Estratégia que devem seguir. Julgo não errar quando recordo que terá argumentado:

- Se o ministro da Economia soubesse, não dizia a ninguém, despedia-se e ia enriquecer pondo em prática e em proveito próprio esse conhecimento privilegiado.

Neste texto, "Two Very Different Stories About Amazon", encontro este finale de meter medo aos crentes no Grande Arquitecto, no Grande Planeador, no Grande Geometra, no Cybersyn, no Papá-Estado, essa entidade pedo-mafiosa:
"Investing is about making probabilistic decisions with imperfect information about an unknowable future. How we think about that future, and whether our assumptions, extrapolations and projections are remotely accurate determines our investment success or failure."
Malta que vive de direitos adquiridos tem dificuldade em engolir esta dose de incerteza irremediável.

Comprem um cão!

segunda-feira, julho 24, 2017

À atenção dos comentadores económicos de bancada

Um texto tão bom mas tão bom!!!

"Obvious...
We respond to Obvious problems by picking the appropriate Best Practicse. We have looked at all possible game and have figured out the best possible way. They are called Best, because there is always exactly one best response.
...
Complicated...
In complicated problems the relationship between cause and effect is predictable, but (very) hard to predict. Complicated problems are the domain of expert, who are better able to predict what is likely going to happen. Which is exactly what top chess players do. They need to predict what the likely moves of their opponents are going to be. Experts can simultaneously consider more possible options, but also reduce it to a smaller set of scenarios that require more analysis.
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So the strategy becomes Sense – Analyse – Respond. And because it is impossible figure out if a move is the best move (except check-mate obviously) there are no best practices in the complicated domain.
...
Complex.
Complex problems are completely different again. What sets them apart is that the relationship between cause & effect is only obvious in hindsight. The gaming metaphor for complexity is poker. Unlike chess, which is a game about predicting, poker is game about learning. Learning what cards your opponents have and how they compare to yours. And the high level strategy for chess doesn’t work for poker.
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Again, taking the poker example that probe can be in the form of betting. If you make a bet you force opponents to respond to it, by folding, calling or raising. This can give you information about their hand. But other probes can be calling out opponents, sensing can be just looking at their demeanours for example.
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So the most important thing about Complexity is that there is no way to learn (and thus solving the problem) without doing. Just thinking about it isn’t going to solve it. In Complex problems our practices are always evolving based on what we learn. In poker, even if we would play a game with the exact players with the exact same cards would turn out differently, because we learned things not just about the game, but certainly about our opponents.
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ChaosChaos happens when there is no relationship between cause and effect or they change very quickly. In this case there is no point in probing because any learning does not help us get better.
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The gaming analogy here is children playing. Anyone who has ever played with kids know that the rules are continuously changing. And there is no point in trying to learn the rules before starting to play. You have to get in and play with them (Act), while making sure are having fun (Sense) and change accordingly if not (Respond).
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But most often we end up in Chaos because of some crisis. When that happens we need to very quickly stabilise the situation and get back out of Chaos. This happens all the time in business, where we are frequently relying on hero leaders and task forces to get us out of trouble.
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But the most important learning is that a whole lot of our circumstances are complex. And thus inherently unpredictable. And no amount of thinking is going to solve that."
Pensem nos comentadores económicos de bancada prontos para dar indicações aos empresários de agora, de Mongo, com as boas-práticas do século XX.

Pensem nos comentadores económicos de bancada crentes num governo todo poderoso com um Cybersyn poderoso capaz de tudo prever.

Trechos retirados de "Understanding Complexity"

domingo, julho 23, 2017

Adeus realidade científica

Ultimamente cheguei a esta teoria de que não conseguimos ver a realidade, apenas conseguimos ver uma versão pessoal dela ao estilo da realidade aumentada no écran de um smartphone.
"Just as scientists work with theories about dark matter or the beginning of the universe, so we too have a vague concept of the world and our relationship to it. Our theories may not be as well thought out, but they still dictate how we think of the world.
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But sometimes, something happens that doesn’t fit our theory. A unique event throws us for a loop, and we start to scramble for explanations. How do we understand this happening in light of our current worldview?
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In other words, people change. Our worldviews shift, sometimes radically, as we absorb new experiences.
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These transitions can be quite painful. A radical change is never without some discomfort: we may be pushed into an unfamiliar world, with little familiar to guide or reassure us.
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When our worldview changes, things get even more complicated. We feel the same anxiety (and excitement) of exploring unfamiliar territory, but, in addition, we also cling to our old worldview, thinking that it is still somehow must be ‘true.’
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something in us grabs onto a theory as a way to explain the world. We believe, in other words, in our idea of the world, whether in the form of religion, a specific scientific worldview, psychological explanations or personality types, social studies, or whatever it may be. But what happens when something happens that doesn’t fit our theory? Either we have to painfully give it up for a new theory (often thinking, “Finally, this is the REAL answer!”), or we have to suppress or deny the evidence so that it doesn’t break our worldview.
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Bohm proposes that theories do not actually describe the world, nor give us knowledge about it. Rather, theories are a way of looking. Bohm reminds us that the word ‘theory’ has the same root as ‘theater,’ meaning ‘to view.’ “Thus,” Bohm writes, “it might be said that a theory is primarily a form of insight, i.e. a way of looking at the world, and not a form of knowledge of how the world is
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This difference between theory as description and theory as insight is subtle, but crucial if we are to free ourselves from the imprisonment of constant theorizing.
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 we have a hidden assumption. The hidden assumption is that theories themselves can be “true.”
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But what does “true” mean? We are looking for something that works in all circumstances. But Bohm corrects us: he says, “all theories are insights, which are neither true nor false but, rather, clear in certain domains, and unclear when extended beyond these domains”
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What we previously thought applied to the world as a whole, really only applies in certain situations.
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This is not meant to be a buzzkill, of course, but rather to correct a false assumption that our ideas about the world are “absolutely true.” “Absolute truth” is more trouble than it’s worth because it traps us in what we think we already know to be true.
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It is better, Bohm argues, to see theories as “ways of looking at the world as a whole (i.e. world views)”. Bohm acknowledges that we are in the world we are seeking to understand, instead of removed from it as an imagined observer. In other words, we play a part in what we experience. Our concepts and ideas shape our interpretation of the world.[Moi ici: Este parágrafo adapta-se perfeitamente à visão que tenho de que não existe um caminho único para uma empresa e que o contexto exterior tem, muitas vezes, menos peso que a idiossincrasia de quem tem a autoridade máxima. Idiossincrasia que depende da sua vida anterior, pessoal e profissional. Por isso, quando os comentadores económicos de bancada ditam as directivas para os empresários seguirem, mudo de canal]
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it is crucial that we drop this idea of theories as “true knowledge of reality” in order to discover the world as it is, instead of as we “know it to be.”
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Bohm’s view does not mean that theories are useless. The insights offered by theories are real insights. But these insights exist only in specific situations; they do not give us knowledge of “a reality independent of our thought and our way of looking.” Freed from this mistaken assumption, we may experience the world in a completely new way. We will no longer be limited by the confused insistence on absolute truth. Rather, we will experience life as a relationship between observer and observed.[Moi ici: Recuar e pensar que gente que dirigia este país acreditava em algo apelidado de "socialismo cientifico", e pensar que existiu uma mentalidade, bem intencionada acreditemos, que acreditava no Cybersyn]
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Without clinging to theories, we may find it easier to go with the unpredictable flow of life."

Trechos retirados de "David Bohm on the Value of Life After Theories"

BTW,

domingo, setembro 13, 2015

como se fosse um problema de poder de computação.

A Economia é uma ciência ensinada nas universidades!
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No entanto, não é uma ciência como a de Galileu:
O vector tempo não é irrelevante em Economia, ao contrário da Física ou da Química. Uma experiência económica repetida na sociedade de 2015 não tem o mesmo resultado da mesma experiência realizada em 2000. Os agentes aprendem, alguns agentes têm memória, diferentes agentes têm vontades e motivações individuais diferentes.
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Por isso, fico incrédulo com quem fica prisioneiro de realidades ultrapassadas, sem perceber que num jogo baseado no Dilema do Prisioneiro com n iterações e memória, não há estratégias eternas.
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Agora, encontro este título e texto "Why Business Defies Logic" e sorrio.
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E volto às universidades que cheios de certezas ensinam Economia como uma ciência cheia de Leis, cheia de Princípios, imutáveis e cheios de racionalidade e lógica, sempre a sonhar com uma nova geração de Cybersyn, mais potente e capaz de ultrapassar as falhas de computação da geração anterior... como se fosse um problema de poder de computação.

sexta-feira, dezembro 26, 2014

Maravilhas do socialismo

Maravilhas do socialismo, "Governo de Nicolás Maduro faz com que o whisky esteja ao preço do leite"!
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Pena que o jornal não contextualize o preço do leite.
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Além disso, o socialismo contribui para a diminuição do excesso de pinheiros no Canadá, importando-os para servirem de árvores de Natal.
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Pena que os socialistas tenham um tempo de resposta tão longo que ainda não tenham percebido o quanto as Barbies já estão out!!! As Bratz abriram o mercado a uma torrente de bonecas muito mais cool.
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A doença de Allende não pára:

quinta-feira, abril 03, 2014

Os crentes...

E se os crentes no Grande Geometra, no Grande Planeador, no Cybersyn, percebessem a mensagem disto "What Blue Chip Companies Are Finding Out The Hard Way: We Are All Startups"?
"As the world becomes more complex and markets less predictable, the willingness to try things and to fail – while once the feared career-ending bogey-man of the executive suite – is now a necessary component of success.
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We now know that the strategy that wins is the strategy that acknowledges complexity and acts accordingly, deploying an active portfolio of activities which are designed to gain insight quickly and at low cost – like a startup. Even in large businesses that have established business models, the interface between their product offering and the various consumer segments should now be seen as a portfolio of startups – each with the mandate to discover insights into the Truth of the Market as it evolves over time.
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The true challenge of business is not the building of products- it is in figuring out the contours of the hidden, ever changing the Truth of your marketplace. It is in answering the questions “what can we do today (and tomorrow) to create even more value for our customers? And what new customers have we not yet discovered?” A company – regardless of size- that is vigorously asking these questions will end up acting very much like a startup."

sexta-feira, agosto 17, 2012

O regresso do socialismo científico

Esta é muito boa, não podia deixar passar a oportunidade:
"Se os CUT escalaram desde 2000 em certos países (não especialmente em Portugal), quem mais desestabilizou a ZE foi a Alemanha, que os reduziu fortemente."
Ou seja, o autor acha que a Alemanha, em concorrência directa com os países da periferia da zona euro (ZE) fez batota, ao baixar os seus custos unitários do trabalho (CUT):
"A trama é conhecida: a periferia da ZE viu os custos unitários de trabalho (CUT) dispararem, aumentou o endividamento e perdeu competitividade, travando a convergência no interior da ZE."
Qual a percentagem de empresas portuguesas, ou da periferia da ZE, que fecharam por perder em concorrência directa com empresas alemãs?
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Nem uma palavra sobre o impacte da China na sustentabilidade dos modelos de negócio assentes nos salários baixos e na produção pouco diferenciada que caracteriza(va) a periferia da ZE. Os outros são sempre os culpados, os responsáveis... estilo Merkel é que está a perseguir o Luisão.
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Depois, num remate pleno de confiança na capacidade do Estado-papá saber o que é o futuro, um final socialista:
"Sendo impossível concorrer com os salários pagos na China ou no Leste europeu, a prioridade é a transformação da estrutura económica. Aqui, uma política industrial europeia seria essencial, não para escolher vencedores nem proteger indústrias em declínio, mas para apoiar setores onde exista concorrência e inovação, e que sejam estratégicos para cumprir objetivos fundamentais: a Europa precisa de um Green Deal e Portugal devia estar na linha da frente."
Ei, espera, agora aparece a China...
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Como se apoiam sectores, sem escolher vencedores nem proteger indústrias em declínio?
Será que a EIP, por exemplo, pertence a uma indústria em declínio?
Será que, como defende Suzane Berger, não existem sectores em declínio mas antes estratégias obsoletas?
Quem é que no Estado tem conhecimentos para equacionar e conduzir uma "transformação da estrutura económica"? Onde aprenderam? Que experiência têm? O que devem privilegiar?
Será que têm um CyberSyn, apogeu do socialismo científico, capaz de ditar o que cada agente tem de fazer?
Como dizia há dias César das Neves, na TV, se um ministro da Economia soubesse quais são os "sectores estratégicos" para o futuro, demitia-se e aproveitava o conhecimento para ficar rico.
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Lembro-me de na imprensa e televisão, os políticos e comentadores falarem abertamente, sem vergonha, sem noção do ridículo, em "socialismo científico". Agora têm vergonha, mas a treta é a mesma, travestida de Green Deal e outros slogans espertalhaços que tentam camuflar as reais intenções.


Trechos retirados de "Outra transformação estrutural"